20110531

tristeza é mato

20110528

Miúdos ou miados

Frente-a-frente ou verso-a-verso, inversamente frenéticos, freneticamente inversos, calculavam os boçais, esboçavam seus calcanhares, migravam de pálpebra-em-pálpebra, apalpavam migalhas, minúcias e maçãs-do-rosto.

20110510

Sorriso sem rosto ~ Parte 1

O mundo estava estranhamente amalgamado e sorridente. Posso afirmar com convicção que havia gente com sorriso quádruplo e até quíntuplo, mesmo durante um dia árduo de trabalho em concreto. Eram essas as pessoas mais corcundas da cidade, as que mais variavam seus sorrisos. Carregavam bolsas enormes e de formas desengonçadas, como se guardassem coisas vivas e movediças dentro delas.

Essa cidade era esquisita, as pessoas eram esguias e as plantas de um verde saturadíssimo. Ainda assim, nada era comparável ao sorriso das pessoas, nas bocas só se via o 100% white e 0% others!(?) O polimento era de cegar pela segunda vez até quem já era cego, o brilho era o próprio sol da boca, a arcada perfeitinha, como prédios construídos com planejamento minucioso, um cuidado com o hálito, com a embocadura, com as diferentes formas de sorrir. Em cada detalhe, um desvio de pensamento pro próprio ato de sorrir. As pessoas, certamente, não sorriam mais os sentimentos, mas sim a própria boca, o próprio sorriso, como se a ação de sorrir fosse apenas para si própria, sorrir para continuar sorrindo.

"Brechó de sorrisos", li no mural da esquina, entre a padaria e o prédio em construção. Brechó de sorrisos? Fui checar do que se tratava e fiquei boquiaberta:

~ Boa tarde, vocês vendem sorrisos usados aqui, é isso mesmo?

Uma moça esguia com um contraste incrível entre sua pele e seu cabelo, mas com um sorriso meia-boca, me respondeu com uma voz aveludada:

~ Geralmente temos em estoque sorrisos usados e semi-novos, mas vez ou outra aparece um sorriso construído à mão, com grande valor emocional agregado, feito especialmente pensado em algum estilo super-próprio, sabe. Sem falar dos sorrisos vintages, nossa! Esses costumam aparecer e em segundos serem vendidos, por parecerem mais naturais, já que na época dos nossos avós a brancura era diferente, tinha todo um charme natural, não é mesmo?

Eu, boquiaberta já em nível avançado, tentando disfarçar meu incisivo lateral direito levemente encavalado com o canino, sorri meio de lado, inevitavelmente expressando um pouco de sarcasmo:

~ Quer dizer, então, que as pessoas compram sorrisos? E os estocam? Trocam os dito-cujos mediante a diferentes ocasiões? É isso mesmo? Desde quand ~ momento em que fui interrompida por um sorriso gigante, hipnotizador e extremamente publicitário.

Fiquei pasma, desmaiei e acordei horas depois numa sala super decorada, com objetos lindos, tão brilhantes e polidos quanto o sorriso do moço que veio me perguntar como eu estava me sentindo.

~ Moça? Moça?!

Por um momento achei que tinha sonhado com o brechó, até que vi um senhor no balcão tentando surpreender uma enfermeira, trocando rapidamente de sorriso, de um neutro amarelado de visitação de parentes para um sorriso de triângulo escaleno, de canto de boca, daqueles sorrisos meio sem noção mesmo...

~ Moça? Você está me ouvindo? Fale alguma coisa, por favor!

~ Olá ~ respondi sem muita energia ~ só estou um pouco pasma a respeito de onde as coisas foram parar.

~ Que coisas?

~ As pessoas.

~ Mas as pessoas não param.

Fiquei pensativa com essa última afirmação dele, tentei forçar um sorriso de boca fechada mas não consegui, então saí devagar reparando em como aquele hospital era parecido com qualquer coisa, menos com um hospital. Talvez, de fato, nem o fosse, talvez fosse apenas um lugar onde iam parar os visitantes pasmos como eu, ou talvez fosse a fábrica de sorrisos, ou de implantes, ou de qualquer coisa que eu ainda não estava preparada para saber, mas continuei pensando.

20110508

das coisas fofas-horríveis:

1 mofo em estágio "peludinho"
2 bolo de pó (sem cabelos)
O que eu tenho pra dizer sobre as pessoas, nem as pessoas.