20090128

susto

1me dão um nó essas coisas de si, de dó
de fá ou de sol nem pra passar em bemol
dormi sem saber, porque de música nem entendo
eu entendo é de sono, de fala e de esmaecer
(acordei repetidas vezes e percebi que ainda estava entre um sonho e outro)
esmaeci sustenido

2ficaste suspensa nos meus pensamentos
escutei a palavra inteira e me deu um branco
experimentei pensar um pouco sobre as coisas e logo me arrependi
porque o que está entre as palavras e as coisas é o que faz sentido
e é com essa única peça que está entre a gente
(e entre as palavras e as coisas)
que devemos ficar confortáveis e sinceras
(seja em silêncios, gentilezas ou fogo brando)

20090125

O soluço é o início da solução.

Só falta descobrir como fazer pra parar de soluçar.
O próximo problema espera ansioso por seu soluço.
Soluço somado acaba em zunido quase-constante e somado ainda mais em zunido constante.
Eu soluço pra dentro.
Eu não ouso somar soluços pra fora.
Existe uma salada de soluços: soluços macios que fazem massagem por dentro da boca, soluços ásperos, soluços ansiosos-quase-vomitados, soluços fáceis de engolir de tão mínimos, soluços graves por pensar demais e soluços tremidos de timidez.
O soluço que eu mais gosto está entre o soluço macio que faz massagem por dentro da boca e o soluço tremido de timidez.
O soluço já começa no início do problema.
O problema e a solução vivem em paralelo.

Em dia nublado ou com pouco sol:

1 Subir no monte de areia mais alto
2 Pisar só com as pontas dos pés bem lentamente na areia mais dura
3 Dar um passo ansioso na areia macia com a ponta do primeiro pé
4 Sempre com a ponta dos pés caminhar na areia macia plana
5 Descer o maior morro de areia macia
6 Tentar fazer com que o próximo passo chegue mais fundo na areia do que o último
7 Pensar no que poderia esbarrar nas pontas dos seus pés lá no fundo
8 Fazer da caminhada de descida do morro de areia o momento mais comprido do dia
9 Repetir quantas vezes desejar

À noite:

10 Achar um laguinho no meio da areia
11 Acocorar-se na areia
12 Pegar um punhado de areia com uma mão só e jogar com força no laguinho
13 Ouvir o som atentamente
14 Pegar quatro vezes menos areia com uma mão e jogar levemente no laguinho
15 Distrair-se com o som
16 Pegar um pouco menos de areia que o passo 12 e um pouco mais que o passo 14 em cada mão, sendo que com a junção dos dois poucos se tenha mais areia que o passo 12 e obviamente mais areia que o passo 14, e jogar os dois poucos no laguinho ao mesmo tempo
17 Observar a conversa dos poucos
18 Ficar em silêncio por alguns instantes até chover
19 Ouvir a chuva ao cair no laguinho e olhar a imagem distorcida que o laguinho fez de você

20090124

FAST (nem festa nem feist)

re pele
pele nova?
pele de novo?
repele

(afasta)

/modelos atuais
/block ou /silencia

(as peles ressecam)
(afoga /em neblina)

Oi, tudo bem? Eu não quero saber como você se chama, obrigada. Até mais.

Cada vez que eu vejo as pessoas pelo meu monitor tenho tanta vontade de estar distante de todas. Mas distante de todas mesmo: das queridas, das médio-queridas, das neutras e das quase-desconhecidas. Na verdade, as que menos me preocupam são as quase-desconhecidas. Porque delas eu não tenho nada: não tenho memórias e não tenho apegos (eu só tenho medo). Do resto todo, principalmente as mais queridas, eu queria estar apagada.

Eu quero desligar a minha memória.


As pessoas que hoje me fazem feliz eu quero apagar logo (não se apega! apaga!). É bem porque elas serão só parte da minha memória em breve. E esse 'breve' sempre repetido, somado e sobreposto.

O esquecimento tarda demais.

Eu não aguento mais ter que esquecer. Eu não aguento mais trocar de sentimento como se fosse de pele ou de máscara. Eu não aguento mais essas pessoas que sentem. Eu não quero mais ser humana. Eu quero achar o botão de amnésia. Ou virar uma boneca de pano ou um macaco de pelúcia.

Umas idéias me bicam!

(Eu preciso dar um jeito: não querer conhecer as pessoas, parar de agir como humana: louca como qualquer humano louco por humanos ainda mais loucos. Ser sozinha poupa e rende até um suco de fruta refrescante para o verão. E de companhia bastam os pés dos sapos e os pés dos coiotes.)

20090122

saudade de ter saudade

eu sempre tenho tanta saudade de tudo que às vezes esqueço que se eu não viver agora de que(m) depois vou ter saudade?

20090117

riscada

Corre o risco,
corre do risco,
risca e arrisca.

As coisas não mudam,

passam horas, passam anos
e está tudo do mesmo jeito
tentando mudar e não mudando,
tentando esconder coisa alguma de coisa nenhuma.
Eu vou sentindo que tudo não passa,
que tudo é presente sempre
e que tudo fica guardado:
por menor que seja o amor
e por menor que seja a dor.
Qualquer coisa serve pra lembrar:
toda coisa serve pra nada
e não muda, nunca.

Amor de pato não é pra qualquer um.

Amor é doença.
Patologia nonsense.
Amor de pato, então:
duplamente doentil!

Se quer ser inimigo meu, seja!

Mas eu não serei inimiga de pessoa alguma
porque de estragado já me basta o ser humano:
por todos os lados, por todas as curvas.

(porque sufoca)

Quem é envolvido demais é doente por essência: o coração maior que a cabeça ou a cabeça maior que o coração ou um envolvendo o outro nessa relação doentia e humana. Sacrificar liberdade é doença: uma coisa que é amada ninguém entende como acontece. E o problema está substancialmente no como acontece: relação saudável e doentia: às vezes em paralelo, outras vezes em sobreposição e algumas vezes individuais. Só é saudável quem não vive.

20090113

(L)

Eu gosto de ter por vezes a tristeza,
até parece coisa de nobreza...
só é triste quem já foi muito feliz
ou já ganhou um buquê de flor de liz
e comeu de sobremesa.

...

É muita prepotência
achar que se apaixonar é uma ciência
em que corpos só dividem corpos
com corações mortos
enquanto tudo fica louco e reticência.

ô ow!

Eu sou do tipo foda-se nessa hora
em que vida nenhuma melhora:
me fodo médio e penso qualquer besteira,
antes se me fodesse inteira
e de cabeça aberta fosse embora.

limerick médio

O que vale mais a pena eu não sei,
mas chover em gente já chovida não aprovei
porque não fiquei com o coração saltitante
ou qualquer coisa assim palpitante:
senti ser só mais uma boneca feita em clay.

err

Fazer coisa de jeito errado também é bom:
rir à toa e fazer de chocolate um batom,
desconhecer conhecidos e dançar em outro mundo,
fazer de conta que coração nenhum tem fundo
e viver loucamente comendo bombom.

r.

Eu não gosto de falar sobre o que quero
porque na vida isso não passa de lero-lero.
Quem é muito convicto sobre o que quer
perde a sua liberdade para uma previsão qualquer:
coisa mais chata ter na vida só o que espero!

.d

Dessa pessoa que não é presente
e deixa a minha cabeça incoerente
eu guardo alguns instantes
e alguns toques relevantes
tão bons quanto pão caseiro quente.

20090112

Momentos que são e não são,
que dizem e não dizem,
são nublados de nuvens e não-nuvens
ou de névoas e não-névoas.

20090108

Eco: oca

Mesmo preenchida com música folk nos fones e com falas de pessoas menores e maiores que estavam do outro lado (falas que às vezes se misturavam) e ainda de pensamentos que nunca se calam, o vento me fez ouvir que ele não queria dizer nada, mas que queria, mesmo assim, que eu prendesse minha atenção nos seus ruídos mais mínimos.

Tantas vezes fiquei sem pensar em nada só ouvindo o vento. Algumas vezes pensei em coisas que não são mais nada. Outras vezes pensei em coisas que ainda não se formaram em nada. E umas vezes em coisas que ainda são alguma coisa (são tão poucas!).

Eu senti por algum momento saudade daquilo que ainda nem vivi, como se eu já estivesse vivido tudo e já estivesse ido embora daquela vida também. Será que eu já estou velha e chata o bastante para nem tentar mais nada nesses sonhos? Já imagino como tudo vai ser, é sempre a mesma história girando e se revezando. Será que as pessoas escondem uma história secreta de mim? É(!): uma história com meios e afins diferentes: secretos, repousados, secos e em preto e branco.

Eu estou me sentindo tão oca: sou um eco dentro do meu próprio corpo.

Cubo-mágico, tranferidor, borracha branca e azul, cestinha de frutas, livro de poesia, sapatinho de pois ou flauta? Nada disso aí o vento me soprou. Ele só soprou enigmas e contextos inquietos... E eu que descubra o que fazer com o que ele soprou, oras!

O vidro da janela do carro aberto até a metade começou a me dar uma aflição. Foi que fechei o vidro por completo: me fechei no vidro por completa falta de ar. Tem que faltar um pouquinho de ar, eu acho. Se tenho ar demais começo a ficar cheia e não consigo viver. Incompleta por falta de ar, eu lembro disso também. Nossa, quanta coisa que eu achei que nem lembrava mais. Até dos meus patins eu comecei a lembrar: eu corria tanto querendo chegar em algum lugar (nem que fosse no céu ou no telhado do ginásio de esportes).

Foi que morri de tanto procurar o céu. E foi lá que eu o achei: bem azulzinho em p&b.

20090107

eu não consigo dormir.

poesia é tudo trapo velho que vem rasgado, sujo e cheio de mau-olhado, essa poesia toda da vida, das coisas bonitas e das coisas feias dá ânsia de vômito, olhares em estado de putrefação, que cheiram mal, cheiram pior que poesia de amor, todo fogo é meio louco, toda cabeça guarda um pouco de cachorro empoeirado, assim como cores cruas, cores de carne de bicho morto no meio estrada, até as coisas que cheiram bem, uma mesma aflição de coisa que é escondida, porque sinceridade tá em coisa feia, já viu, já vi.

enxaqueca não esconde o mundo, mostra, mostra que as coisas são sempre assim, que o mundo tá podre, eu sonhei e não é que o mundo é podre mesmo? eu vivo no meio de coisas tão legais, escondidas por cores bonitas ou por anseios de coisas melhores ou por amigos ou por comidas que dispensam qualquer outra coisa boa da vida, ser sozinha às vezes agonia, às vezes descansa os olhos de ter que ver coisa ruim fingindo que é boa.

cortei as unhas bem curtinhas pra parecer que as coisas velhas da vida foram separadas de mim, eu não quero mais pensar no que em qual onde e como, tudo misturado é bom e é ruim ao mesmo tempo, ar ar ar, eu quero dormir da vida um pouco, eu odeio baratas e eu adoro poesia.

raiva varia

tão engraçado como são as coisas: fixam boas comigo sozinha e mudam: fixam boas em dupla e mudam de novo. e sozinha e em dupla e assim sempre. sendo sozinha um modo de estar e não de viver. coisa estranha as coisas mudarem o tempo todo. são todas livres demais, é por isso. as coisas andam p&b: andam boas, mas perigosas: como sempre quando não fixam. mas quando fixam, mudam. o que é ruim de verdade? as coisas estão agora. e agora, aquela velha história: antes vive ou depois. coisa boa e coisa ruim andam juntas: pra poderem mudar, senão as coisas fixam e nada de voar de novo. mas no fim, quer saber, falta coisa nova: jeito novo das coisas mudarem: variar. é, variar um pouco essa coisa de fixar e de mudar. não fixa: quero coisas boas que não fixem. quero variar. que raiva das coisas que não variam. varia, não raiva.

20090105

mar de melzinho (todas as coisas juntas)

eu mal obedeço à mim mesma, vou querer obedecer ao mundo? larga disso, pensamento! que o mundo é pouco pro mel que cobre ele. coberta de mel: frio de doce: adocica país tropical. adocica essa gente que joga baixo e essa gente que o mundo engole sem conseguir fazer passar pela garganta. as coisas são dúbias: coisa chata ter que ficar prestando atenção pra não escorregar num mel estragado.