20081124

eu misturo as coisas

eu misturei alegria e tristeza. mas sem água (sem chuva). como se uma fosse sal e outra fosse açúcar. mas sem água (sem chuva). porque senão vira soro. ou choro?

as casas boas compensam

tem uma pessoa que mora na minha casa e está de aniversário. essa pessoa me deixa mais quente por dentro. ela não chove (ela é a chuva). e não me faz chover. eu amo essa pessoa e quero que ela tenha as coisas mais bonitas e intensas da vida. e das casas. e das pessoas. e das coisas. eu quero essa pessoa sempre por perto.

a casa tá vazia e limpa

a casa ficou vazia até nos cantos. os cantos tão limpos de pó e desgostos. a casa tá vazia e limpa. tá desinfetada mas tem afeto. as pessoas são como casas. porque uma hora você tá com uma pessoa. e assim você fica. você tá com essa pessoa e no outro dia você tá de novo com essa mesma pessoa. e você faz várias coisas com essa mesma pessoa. todo dia ou muitos dias seguidos. e então, a pessoa some. some de dentro de você. como se você fosse a casa da pessoa. aí a pessoa fica limpa e vazia. limpa de afeto. e chove. a casa e a pessoa tão vazias, limpas e chovem. a chuva limpa toda casa e mata. mata as pessoas. mata as pessoas dentro das pessoas. e a casa das pessoas também morre. a casa de fora. a casa que tem pessoas com outras pessoas dentro. o mundo também é a casa das casas. o mundo tá frio. as pessoas e as casas. eu já entristeci demais com as casas. eu já me mudei demais das pessoas. eu não quero mais chover. você precisa desabafar. eu não gosto de pessoas abafadas e nem de pessoas convictas demais. casas convictas deixam as pessoas presas. e se chover dentro das casas? as pessoas morrem presas, abafadas e com outras pessoas dentro. a minha enxaqueca vai passar daqui a pouco. logo fico um pouco trêmula, limpa e vazia de enxaqueca. e de desgosto. eu sentei na sala e olhei pra parede. e a parede piscou de afeto. eu vou amar a parede. vazia. e limpa. pelo menos a parede não chove.

20081122

ch-ar

areia pra passar:
passeia, ar
ch com uva, ch é luva
luva de uva
chuva de chá
chuva de ar
chá de ar
ou chá de uva

20081107

engolir graça

Volta e meia (ou meia volta ou volta inteira) a minha concentração se (re)volta (meia ou inteira) pra pensamentos longínqüos sobre abraçar e pedir desculpas (meias ou inteiras) e começar de um zero que nunca existiu mas sempre se fez de conta. Que pensa meu inconsciente(?) pra me fazer tontear em minúcias acontecidas no passado (que nem se quer, hoje, existiram sem fatos-registros), ter ânsias de vomitar frases finas e compridas de amor-louco e desejos de sair correndo atrás com as mãos e braços livres pra abraçar tão forte e apertado até todo ar acabar e sobrarem só as vísceras para serem vomitadas (tão misteriosas e invisíveis) que eu veria e sentiria o que é essa coisa que ainda não está completa dentro do meu corpo? Por muitas vezes me disseram (e ainda me dizem vez ou outra): "não corre atrás (nem meia nem inteira)!", mas sempre de um jeito "nunca corra" em negrito, como se correr fosse piorar em múltiplas e incontáveis vezes meu estado de ser e estar (pros outros, não pra mim). Acho que a negação de orgulho me explica (como pessoa que corre e abraça): o que acontece é que quando, em últimas circunstâncias, o orgulho se manifesta de mim, ele vai à força pra fora do meu corpo, num estado de choque e tristeza.
Eu tenho coração de maria-mole, mas ninguém me engole.

20081104

partes inteiras e pedaços de partes inteiras ou partes não-inteiras e inteiros sem partes ou pedaços

Parte inferior do pé do homem ou dos animais, que pousa no chão. Mosquito, mosca ou abelha. Objeto locomotor de inúmeras cabeças. Coisa asfaltada com pressa de motor de moto. Poeira mal localizada dentro de casa. Desejo de inspirar colega em lugar úmido. Coração de computador. Nescafé com leite sem ninho. Papo de sapo corrupto em meio à socialight. Olho de toppo giggio. Rabo de escultura metálica e rabugenta. Gente que coça o nariz o tempo inteiro. Canto de coruja. Dentro da casa do vizinho do condomínio que dá saudade. Coração de maria-mole e coração mole de Maria. Farinha de mandioca embebida em saliva de lagarto. Hipnose por perda ácida e macia. Fim físico com peles conversando e toques suaves e frios. Entendimento desprovido de explicação das entrelinhas. Martedi vuoto.

Planta da família das compostas.

(alguns nascem para ter saúde.
outros para ter saudade.)


Planta na família das compostas.
Planta composta nas famílias.
Famílias compostas das plantas.
Família das plantas compostas.

deu ou dará?

de uma hora pra outra as coisas têm que sumir: essa é a regra. some some, coisa. ai, que coisa que não some de miiiiiiim(imimi). pensa com o cérebro, eu interior, por favor. deu de pensar com coisa que não pensa, que coisa! assim coiso mesmo, as vezes eu queria mesmo assim coiso mesmo, as vezes eu queria mesmo assim coiso mesmo, as vezes eu queria mesmo assim coiso mesmo, as vezes eu queria mesmo assim coiso mesmo, as vezes eu queria mesmo assim coiso mesmo, as vezes eu queria mesmo assim coiso mesmo, as vezes eu queria mesmo assim coiso mesmo, as vezes eu queria mesmo assim coiso mesmo, as vezes eu queria mesmo assim coiso mesmo, as vezes eu queria mesmo assim.

20081103

tetris triste

te tris
tris te
te tris
tris te


amodi

odiamar
amodiar

amodi é moda: amor de ar

tris-te s-em mei-o


ar. sabe?
é só. sssó.
vento:
arrápido.
(adi.ar odi.ar)
não ven:
tô tris-te
s-em mei-o,
sem péia
nem cento.
e tossi:
tossó.
ah! mei-o.
ou vento.

20081101

parágrafo efervescente

Eu tropeço no ponto final da frase e caio de cara na próxima frase fervendo. Mas isso fui eu que escolhi: não quero abrir livro meu e ler frase morna por mais tempo que frase fervendo. Eu quero uma vida efervescente. E que faça sssh bem forte de ser lembrado. Quanto maior o ponto final maior o tombo. Quero ser pastilha grande: quero sssshiar alto, bem alto. Quero um ponto final grande pra ter um tombo grande pro próximo ssshh. E pra isso tenho que ter frase gelada pra então ter frase fervendo depois. Frase morna é só por tempo de descanso. Mesmo que eu fosse de ferro, ferro também é fundido. E o ferro fundido e eu só descansamos em morno quando estamos no inverno (isso é regra - que também pode ser fundida). (E agora não é mais inverno.)

meu cabelo mágico

Começa o ano e mais uma corzinha na cabeça. O cabelo sabe muito bem do que se trata essa cor (é o amor! é o amor!). Tinta de cabelo é poção mágica, qualquer cabelo pintado é afetado. É como se fossem qüadores-de-café e canetinha. O qüador sou eu e a canetinha é a tinta. A tinta vai pela cabeça e deixa o coração colorido. De coração em coração, de cabelo em cabelo, são novos paraísos. O desejo de ter um cabelo colorido não é coisa que se explique, é coisa mágica! O cabelo, simplesmente, precisa de uma cor (de amor! de amor!). Devo as minhas cores de cabelo aos meus amores. Qual será a próxima cor? (e o amor? e o amor?)

sái gosma

agora eu já não sei mais o que acontece: se são os sentimentos que ficam dentro ou se sou eu que fico dentro. sim, burra quando sinto, eu sou. mas eu sou por que eu entrei no sentimento e ele me tirou o cérebro em posição de ingresso ou por que algum sentimento entrou em mim por orifício qualquer e então me contagiou, pegando meu cérebro como refém? eu não tenho convite pra sentimento algum (e que isso fique claro), mas tenho pontes. e essas, malditas sejam, tomara que quebrem todas. odeio pontes (talvez porque eu as ame). acho que as coisas podiam ser mais soltas. sentimento nenhum tenho sentido solto de mim. é sempre: ou eu dentro ou ele dentro. pegajoso.

uma coisa me complica o pensamento, tenho que confessar: como posso estar dentro de um sentimento que só existe e só existiu pra mim? no caso eu não poderia estar dentro de um sentimento contigo se tu nem se quer lembras dele. e se é o sentimento que está dentro, como uma alma um pouco pior do que as almas que não existem (porque o estado da alma de "não existir" é pior do que qualquer alma), como pode termos tido uma ponte entre nós se não existiu uma base tua? a ponte quebrou por isso, teus sentimentos são tão misteriosos que enganam existir. eu sou curiosa. onde escondes teus sentimentos? é como páscoa. é isso(!). conclui esse pensamento incômodo: tens sentimentos de chocolate e eu os comi. comi todos pra agora estares vazio. como um saco vazio sem batatas ou sem farinha. és todo vazio do mesmo saco (e eu sou de saco-cheio). teu saco é nada, entendes? e se não tens nada, não te quero. o único problema é que teu vazio é pegajoso e está dentro de mim. porque até teu preenchimento que eu comi é vazio. estou cheia desse teu vazio pegajoso!

algumas outras coisas têm sido pegajosas: enxaqueca é uma. sabe passar roupa? a minha enxaqueca eu passei hoje. é, passei minha enxaqueca à ferro. passei por dentro, assim como se passa camisa de formatura pra ficar bem lisinha. a minha enxaqueca está tão lisinha quanto o teu dentro. assim, sem ranhuras, sem estragos e sem preenchimentos. és como a minha enxaqueca, tenho que te passar à ferro fervendo. pra te estragar, pra morreres de mim. mas com muito cuidado pra não te grudar lisinho. quero-te desfeito, desmaiado no tempo, desintegrado ou invisível. ou talvez nenhum dos dois. talvez o que eu queira é um vazio no teu lugar que está em mim. mas estás grudado, praga! sái que esse lugar é meu e eu prefiro vazio meu do que tu vazio em mim. és pegajoso, mas não pegas nada.